Mea Culpa do PT?
Chomsky
pede uma “Comissão de Verificação”, “Comissão da Verdade”,
interna, para o PT. Uma nova caça às bruxas? No entanto, quem fará
realmente que essa comissão consiga chegar aos seus propósitos, de
forma eficaz? Do ponto de vista da justiça enquanto “establishment”,
já foi feita em parte, do ponto de vista da imprensa oficial ou
oficiosa, também.
Sabe-se
que, historicamente, no Brasil, do “Projeto Brasil: Nunca Mais
desenvolvido por Dom Paulo Evaristo Arns, Rabino Henry Sobel, Pastor
presbiteriano Jaime Wright e equipe, foi realizado clandestinamente
entre 1979 e 1985 durante o período final da ditadura militar no
Brasil, no ano de 1985, e gerou uma importante documentação sobre a
história do Brasil1;
de Joseph McCarthy, “McCarthyism”2,
nos EUA; até mesmo “o chamado Discurso Secreto ou Relatório
Khrushchov, cujo nome oficial é 'Sobre o culto à personalidade
e suas consequências', é uma famosa intervenção do político
soviético Nikita Khrushchov durante o XX Congresso do Partido
Comunista da União Soviética, em 25 de fevereiro de 1956”3,
na Rússia; na Alemanha, contra o nazismo, “os Processos de
Guerra de Nuremberg foram uma série de doze julgamentos por
crimes de guerra contra membros chefes sobreviventes da Alemanha
Nazista. Todos aconteceram no Palácio da Justiça de Nuremberg, após
a Segunda Guerra Mundial”4.
A própria Inquisição5,
também não deve ser esquecida, como parâmetro.
O
problema é até que ponto a justiça será feita a partir de uma
comissão da verdade que faça um “mea culpa”,
“Mea
culpa (em português, mea-culpa) é uma frase latina, no caso
ablativo, e, em português, pode ser traduzida como "por minha
culpa", ou "por minha falha". O caso ablativo, no
latim, dá a ideia de causa, sem a necessidade da preposição. De
forma a enfatizar a mensagem, o adjetivo máxima pode ser inserido,
resultando em mea maxima culpa, que poderia ser traduzido como "minha
mais [grave] falha" ou "minha mais [grave] culpa".
Consiste num pedido de perdão ou num reconhecimento da própria
culpa”6.
Toda
essa comissão da verdade sugere um suicídio político, visto que
sugere uma caça das bruxas sem fim, sem limites, em que o
oportunismo político pode levar a um descrédito total do partido.
Dessa forma, o próprio partido assumirá o discurso antipetista
oficial, a crítica da grande imprensa, a crítica de parte do
judiciário, até mesmo a crítica de parte dos militares. Um exemplo
disso é o texto de João César de Melo7.
Cid Gomes, por exemplo, pediu “mea culpa”. Mas quem é Cid Gomes?
“Durante
alguns anos guardei alguma desconfiança sobre a adesão de Cid e
Ciro Gomes à social
democracia e depois ao socialismo.
Seria convicção ou conveniência? Mas nada como a prova do tempo
para esclarecer certas dúvidas. Hoje
tenho certeza absoluta que se trata dos mais genuíno socialismo, não
apenas como ideal utópico, mas como prática experimentada na vida
cotidiana. Não há líder
socialista no mundo que, uma vez no poder, ao mesmo tempo em que
critica a burguesia e os capitalistas e jura fidelidade aos pobres,
adere sem crise de
consciência aos hábitos de consumo e ao estilo de vida dessas
mesmas elites. Mansões,
joias, carros de luxo, viagens em jatos, hotéis caríssimos, roupas
de marca, entre outros mimos, estão na lista dos desejos que
invariavelmente, excetuando-se talvez o atual presidente do Uruguai,
faz a alegria desses combatentes da exclusão e da desigualdade
social. Assim, não há
surpresa em saber que o Governo do Estado do Ceará firmou
contrato de um ano com um buffet, ao custo de quase três milhões e
meio de reais, para despesas com comidas para festas e solenidades, o
que equivale a aproximadamente R$ 10 mil reais por dia.
Muito provavelmente o governador não acompanha essas miudezas, mas
é evidente que quem autoriza esses contratos respeita uma concepção
de poder. O gabinete do
governador pode até dispor dos devidos meios para promover eventos
requintados, tudo dentro da lei, no entanto, são gastos que chocam
pelos contrastes que suscitam: o
Estado que banca jantares refinados, festas suntuosas, viagens
turísticas e shows milionários
é o mesmo onde a penúria e a necessidade extrema castigam as
vítimas da seca. Ser perdulário com o dinheiro alheio não é
pensar grande, como imaginam os nossos governantes, é sinal de
miudeza, de deslumbre que encobre um mal disfarçado complexo de
inferioridade. Esse estado psicológico, bem como a prática de ceder
aos encantos do consumo de bens e serviços de alto padrão e valor
às custas de terceiros foi maravilhosamente demonstrado por George
Orwell em A Revolução dos
Bichos, quando os porcos
lideram uma revolta contra os humanos, para depois tomar-lhes o lugar
na sede da fazenda, deixando os companheiros do passado na pobreza de
sempre. No campo dos simbolismos ideológicos, portanto, o governo
socialista que hoje comanda o Ceará,
ao esbanjar verbas oficiais com caviar e camarão, iguarias típicas
das aspiração mais aristocráticas,
confirma a sua natureza, com a peculiaridade de que, no ideário
igualitarista do PSB cearense, o progressismo começa pela cozinha. O
apóstolo São Paulo ensinou: “Tudo me é permitido, mas nem tudo
me convém”. A lição deveria servir também para gestores do
dinheiro público”.8
Ou até
mesmo essa, vindo da própria esquerda, que não reconhece o que fez
o PT, assumindo uma crítica que faz coro com o da direita:
“O
esforço para a ampliação máxima da frente democrática para dar
apoio a candidatura de Fernando Haddad, revelou na noite desta
segunda-feira (15) sua completa inutilidade política. Em um ato
público realizado no Ceará convocado pela frente democrática
pró-Haddad (PT, PCdoB, PSTU, PSOL, PCB, PSB, PDT), o senador eleito
pelo PDT, Cid Gomes, afirmou que o PT "merece perder a eleição"
por ter aparelhado "às repartições públicas", além de
chamar os militantes do PT presentes no evento de "babacas".
Sob o olhar complacente e servil do próprio governador petista
Camilo Santana, Cid Gomes vociferou todo seu ódio de classe contra a
esquerda que "docilmente" organizou uma atividade conjunta
para ser atacada pela oligarquia burguesa dos Ferreira Gomes. Até
as "pedras" sabem que a "família" Gomes está
engajada até a medula na campanha de Bolsonaro e Carlos Eduardo ao
governo do Rio Grande do Norte, onde haverá segundo turno.
O ex-prefeito de Natal, Carlos Eduardo além de ser membro do PDT é
ligado (financiado) diretamente por Ciro Gomes e atualmente está
enfrentando a candidatura da senadora petista Fátima Bezerra. Este
não é um caso isolado no Nordeste, o PDT em todos os estados onde
disputa o segundo turno está apoiando o neofascista Jair Bolsonaro.
Porém a esquerda reformista, sob o discurso de "votar 13 para
derrotar Bolsonaro", vem se integrando a alianças eleitorais
com a burguesia, inclusive com setores que trabalham abertamente no
sentido do triunfo do candidato fascista, como é o caso dos Ferreira
Gomes. Ciro, que chegou a despertar simpatia de alas do PSOL sob a
justificativa de estar melhor posicionado para derrotar Bolsonaro,
viajou a Europa para não se comprometer, apesar de seu partido o PDT
ter declarado "voto crítico" em Haddad. A esquerda
reformista com sua plataforma programática de colaboração de
classes, somente reforça o avanço da ofensiva fascista e neoliberal
sobre as massas, semeando a ilusão de que é possível derrotar a
direita na esfera destas eleições completamente fraudadas e
manipuladas pelo regime golpista. A equivocada tática de "votar
13", com toda a "carga" que esta posição política
carrega (alianças com a burguesia, rebaixamento do programa etc..)
desarma a reação direta do proletariado, inoculando nas massas a
"tese" de que o regime fascista (ou ditadura militar) será
implantada com um resultado eleitoral adverso para o PT e seu fraco
candidato "neodesenvolvimentista", que parece estar mais
preocupado em conquistar o apoio de FHC e afins do que o da classe
operária. Uma vitória eleitoral de Bolsonaro é certo dará um
enorme impulso a ofensiva neoliberal contra direitos e conquistas
históricas dos trabalhadores e do povo brasileiro, além é claro de
incrementar a "onda" reacionária e conservadora contra
todas as "minorias" nacionais. Mas a ascensão de um regime
fascista ou do tipo militar congênere não é produto de uma eleição
presidencial e sim de uma derrota profunda do proletariado na
correlação de forças entre as classes sociais, e neste sentido
toda a aposta política que semeie a confusão e paralisia de nossa
classe favorece a marcha do fascismo rumo a tomada do poder estatal,
que repetimos mais uma vez não é simplesmente um ato eleitoral.
Hoje concretamente ao "votar 13 para derrotar Bolsonaro nas
urnas", a esquerda reformista engrossa o "caldo político"
do fascismo, simplesmente porque embota a consciência da classe
operária, concedendo uma
importante sobrevida política a Frente Popular de colaboração de
classes encabeçada pelo PT”.9
O
partido, por sua construção a partir de baixo, com uma base popular
sólida, não pode jogar tudo fora por um falso moralismo de esquerda
e de direita. O partido, enquanto tal, não foi culpado por isso ou
por aquilo, mas alguns de seus militantes, não importando que sejam
líderes ou não, visto que não existe um crime pior ou crime
melhor, mas apenas crime que deve ser julgado pela justiça comum,
com penalidades que variam caso a caso, pois toda a justiça é
individualizada, embora possam haver quadrilhas, “máfias”,
organizações criminosas, o que não é o caso de um partido
nacional como o PT, com todas as suas variações regionais. Liquidar
o PT é o gosto do latifúndio, dos bancos, da grande imprensa, de
parte da justiça e parte dos militares. O PT no poder significou um
ganho sem igual para o povo, na história do Brasil; talvez
comparável apenas com o que fez Getúlio Vargas, de maneira
populista, de forma autoritária, embora com bandeiras claramente de
interesse da maioria da população. A autodestruição do PT não
interessa ao povo pobre de nosso país.
Chomsky
é um dos maiores pensadores do mundo. A análise que faz do Brasil
atual é cristalina. Bem diz o ditado “santo de casa
não faz milagre”. É preciso que alguém, supostamente de fora,
diga o que muitos, de dentro, já falaram a muitas horas. A questão
do petróleo e a influência dos EUA precisam de uma análise melhor.
“BBC
News Brasil - Lula nomeou Fernando Haddad como seu sucessor. Se ele
vencer, terá que lidar com um forte sentimento anti-PT no país, que
está muito polarizado. É possível superar essa polarização? É
uma questão de diálogo e alianças?
Noam
Chomsky - Se o PT reconquistar o poder político - ou mesmo se não
chegar lá, de uma forma ou de outra -, uma
grande tarefa que deve enfrentar é de estabelecer uma espécie de
comissão da verdade para olhar com honestidade para o que ocorreu.
Olhar com franqueza para as oportunidades que perderam. Isso teria um
grande significado. Eles tiveram tremendas oportunidades. Algumas
foram usadas em benefício da população, outras foram perdidas. É
preciso perguntar por que isso ocorreu, e fazer isso publicamente. E
realizar reformas internas que impeçam que aconteça outra vez. Isso
deveria ser feito independentemente de chegarem ao poder. O mesmo
vale para todos os partidos, ninguém está imune a isso.
BBC
News Brasil - O senhor frequentemente elogia o período de
crescimento e redução da pobreza na era Lula, mas seu governo
incluiu práticas de corrupção, fisiologismo e toma-lá-dá-cá
recorrentes na política brasileira, e que Lula antes condenava. Isso
levou muitos a se desiludirem com o PT. Na sua visão, a inclusão
social prevalece sobre esses problemas?
Chomsky
- Houve isso e eu não justifico, não considero correto. Mas foi
inevitável já que o PT tinha uma minoria no Congresso. Não
poderiam operar sem fazer alianças. O problema real foi outro. O
problema real foi ter falhado em diversificar a economia. Naqueles
anos, houve uma grande tentação em toda a América Latina de seguir
a vocação tradicional de fornecer commodities a consumidores em
outras partes do mundo, especialmente para a China, que se tornou uma
grande compradora de soja, ferro. Manufaturados chineses baratos
passaram a inundar o Brasil, inviabilizando a indústria de
manufaturados local. Esse tipo de política não pode levar a um
desenvolvimento de sucesso. A Venezuela também continuou dependendo
completamente da exportação de energia. Por outro lado, houve uma
acentuada redução da pobreza, mais benefícios na saúde, mais
oportunidade de educação. E
o Brasil foi lançado para o centro do palco mundial, com as
políticas de Lula e de Celso Amorim (o então ministro de Relações
Exteriores) tornando-o um dos países mais respeitados do mundo.
Então houve erros graves, mas houve também conquistas
consideráveis.
BBC
News Brasil - Mas essas conquistas começaram a entrar em declínio
durante o governo do próprio PT.
Chomsky
- Elas colapsaram quando a oportunidade fácil de produzir
commodities para o que parecia ser um mercado insaciável se esgotou.
E aí houve um grave problema. Que foi causado pela falta de
diversificação. Mas a corrupção é real. É endêmica não apenas
no Brasil, mas em todo o hemisfério.
BBC
News Brasil - Então quando o senhor defende o PT, admite que houve
corrupção?
Chomsky
- Quem defende o PT?
BBC
News Brasil - O senhor fala em defesa do Lula.
Chomsky
- Falo em defesa do Lula de uma maneira muito especial. Digo que
houve conquistas significativas, mas houve erros. E que ele agora foi
condenado de uma maneira completamente desproporcional ao que fez ou
deixou de fazer. Isso não é defender o PT, é descrever os fatos.
Embora Lula pareça ter se mantido afastado de corrupção
pessoalmente, ele certamente tolerou muita corrupção no PT. Assim
como o (Hugo) Chávez tolerou muita corrupção na PDVSA (a estatal
de petróleo) na Venezuela.
A corrupção no Brasil e em toda a América Latina é chocante, e
isso já há muito tempo. É um problema sério, mas difícil de
superar. Porque está entranhada no sistema eleitoral. É preciso
desmantelar uma estrutura fortemente enraizada.
BBC
News Brasil - O senhor acha que Lula não tem responsabilidade pelos
crimes de que foi condenado?
Chomsky
- O crime específico pelo qual ele foi condenado foi a alegação de
que um apartamento foi dado a ele, no qual ele nunca morou. Mesmo se
assumirmos a versão mais extrema de que ele é culpado de todas as
acusações, o que eu duvido, a sentença é completamente
desproporcional. O testemunho (do ex-presidente da OAS, Leo Pinheiro)
inspira desconfiança por ter sido obtido em delação premiada. É
evidente que a sentença é meramente punitiva e não tem relação
com a natureza do crime. A negação ao habeas corpus (para que Lula
pudesse recorrer em liberdade) reforça isso.Ele sem dúvida deveria
ter o direito de concorrer nas eleições, como recomenda o Comitê
de Direitos Humanos da ONU (que em agosto recomendou que o Brasil
garantisse os direitos políticos do ex-presidente, mesmo na prisão,
como candidato às eleições de 2018).
BBC
News Brasil - Mas a sentença a Lula foi confirmada em segunda
instância, enquadrando-o na Lei da Ficha Limpa, que ele próprio
sancionou durante seu governo.
Chomsky
- Sim, é verdade, e uma boa parte da classe política deve ser
submetida a essa lei, mas de uma maneira justa e correta. Assim, se
vier à tona que um apartamento foi oferecido ao presidente Temer no
qual ele nunca viveu, ele nunca deverá ser sentenciado a 12 anos de
prisão por isso.
BBC
News Brasil - O senhor acha que a sentença seria diferente para
membros de outros partidos?
Chomsky
- Radicalmente diferente. Acho que seria incomparável. O presidente
(Fernando Henrique) Cardoso seria sujeitado a essa sentença de
prisão por uma acusação semelhante?
BBC
News Brasil - Temos visto o avanço do candidato Jair Bolsonaro, que
tem liderado as pesquisas. Há alguma especificidade brasileira nesse
avanço da direita?
Chomsky
- O mesmo está acontecendo em grande parte do mundo. O caso mais
recente foi na Suécia (em eleições recentes, o partido de
extrema-direita Democratas da Suécia teve sua maior votação e se
firmou como terceiro maior partido do país, com 62 cadeiras no
Parlamento). Na Europa, esse fenômeno costuma ser relacionado ao
aumento recente da imigração. Entretanto, uma análise cuidadosa
feita por cinco economistas suecos demonstrou que os motivos precedem
a onda imigratória. Reflete a imposição de políticas neoliberais
que afetaram a profundamente as últimas gerações não só na
Suécia mas no mundo todo, acompanhando reformas que decolaram a
partir das eras (Ronald) Reagan (presidente norte-americano entre
1981 e 1989) e (Margaret) Thatcher (premiê britânica entre 1979 e
1990). O efeito dessas políticas foi concentrar a renda em círculos
muito estreitos, expandir o poder corporativo e aumentar a tendência
a monopólios. E deixar de lado a maior parte da população, que
sofre com salários que não aumentam, empregos que tendem à
precarização e sindicatos enfraquecidos. Nos EUA, por exemplo, os
salários de executivos aumentaram em 1.000% nesse período, mas
funcionários sem cargos de supervisão ganham menos hoje do que
ganhavam em 1979. Salários ficaram represados e benefícios foram
cortados. O mercado de trabalho caminha propositalmente para a
precarização, com cargos em meio expediente, sem vínculo
empregatício, e assim vai. Mas de volta à Suécia. O efeito que
vemos é que as pessoas se sentem abandonadas, não mais
representadas pelo sistema político, e foi isso que levou ao aumento
do voto pela extrema-direita. Mas essa população que se sente
excluída tem raiva, ressentimento, medo, e busca bodes expiatórios,
que são os grupos mais vulneráveis. Na Europa atual, a culpa é
colocada nos imigrantes.
BBC
News Brasil - Bolsonaro costuma ser comparado a Donald Trump, às
vezes chamado de 'Trump brasileiro'. A comparação faz sentido?
Chomsky
- Há semelhanças. Até onde percebo, Bolsonaro não parece ter uma
política econômica própria. Mas há pessoas ao seu redor que
definitivamente têm. Seu economista chefe é um economista
ultraliberal de Chicago (referência a Paulo Guedes, que coordena seu
programa econômico e tem Ph.D. na Universidade de Chicago, bastião
do liberalismo). Ele representa grupos semelhantes àqueles para os
quais Trump faz uma espécie de cortina de fumaça nos EUA.O papel de
Trump no sistema político econômico é duplo: o de manter a atenção
da mídia constantemente focada no que ele faz ou deixa de fazer e
sustentar o apoio de seu eleitorado ao aparentar fazer coisas para
eles; mas, enquanto isso, dar cobertura para programas republicanos
selvagens que estão sendo implementados por pessoas como Paul Ryan
(deputado pelo Partido Republicano e presidente da Câmara dos
Representantes dos EUA) e Mitch McConnell (senador republicano). Um
bom exemplo é a maior conquista recente dos republicanos, a reforma
tributária (aprovada em dezembro do ano passado). Foi um grande
presente para o setor corporativo, para os ultra-ricos e para o setor
imobiliário. Para o resto da população, o próprio Paul Ryan
(presidente da Câmara dos Representantes dos EUA) explicou os
efeitos: a reforma cria um déficit enorme e por isso será preciso
cortar investimentos sociais. Saúde, educação, vale-alimentação
para crianças pobres, essas coisas "irrelevantes".
Enquanto a mídia se concentra nas últimas mentiras ou no
comportamento esquisito de Trump, esse tipo de coisa está
acontecendo no background. Com o Bolsonaro, imagino que poderíamos
imaginar algo semelhante. Vai depender se ele tiver o mesmo talento
de Trump, que está tendo uma atuação impressionante. Enquanto
prejudica seu eleitorado de todas as maneiras possíveis, minando
segurança social, direitos trabalhistas, ainda consegue se
apresentar como seu defensor. E seus eleitores respondem não apenas
com apoio, mas com veneração. Isso é um feito tremendo. É uma
realização que demagogos alcançam de vez em quando, mas demanda
habilidade política.
BBC
News Brasil - Três décadas depois da redemocratização, temos
visto grupos publicamente defendendo intervenção militar no Brasil,
algo que até pouco tempo atrás seria impensável. O senhor vê uma
tendência à militarização na política no Brasil?
Chomsky
- Se a situação econômica, social e política se deteriorar o
suficiente, poderia haver um apelo para que alguém intervenha de
modo a preservar a ordem. Mas é muito diferente de 1964 (ano do
golpe militar). Os Estados Unidos tinham uma influência avassaladora
sobre a América Latina na época. O terreno para o golpe no Brasil
foi preparado durante o governo Kennedy, e implementado pouco depois
de seu assassinato (em 1963), com forte apoio dos EUA. O então
embaixador Lincoln Gordon o descreveu como a maior vitória para a
democracia em meados do século 20. E depois vieram os golpes no
Chile, no Uruguai, na Argentina, o pior de todos, fortemente apoiados
pelos EUA. Hoje, os EUA não têm mais essa influência sobre a
região. Um dos efeito das políticas de centro-esquerda foi o de
reduzir o controle e a influência americana sobre a região em
diversas maneiras. Uma delas, por exemplo, foi expulsar o FMI (Fundo
Monetário Internacional).
BBC
News Brasil - A influência do Brasil na região também diminuiu.
Hoje estamos diante da maior crise de imigração na história
recente da América do Sul, com o êxodo da Venezuela, mas não há
uma liderança regional clara. Qual é o impacto político dessa
crise para a região?
Chomsky
- O impacto é sério. As estruturas que começaram a ser
desenvolvidas para lidar com tais situações erodiram. A Unasul (a
União de Nações Sul-americanas, bloco de 12 países fundado em
2008) mal funciona. A Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos
e Caribenhos, fundada em 2010) não funciona de jeito nenhum. Os
movimentos para adquirir maior independência e desenvolvimento (na
região, buscando maior integração entre países da América
Latina) foram abortados e regrediram. Mas não acho que tenham sido
perdidos. O que foi realizado proporciona um arcabouço para seguir
em frente, o que acho que será feito, porque a situação não é
tolerável.
BBC
News Brasil - A seu ver, está na hora de lideranças da esquerda na
região tomarem uma posição mais forte para condenar as violações
de direitos humanos do governo Maduro?
Chomsky
- Sim, e isso sempre foi necessário. Eu mesmo participei de fortes
protestos contra violações de direitos humanos sob o regime de Hugo
Chávez. É preciso se posicionar com firmeza contra as violações.
Lembrando, entretanto, que são uma parte muito reduzida das
violações de direitos humanos que acontecem no mundo todo. As mais
extremas no período moderno partiram dos Estados Unidos e da
Inglaterra. A invasão do Iraque é o pior crime do século 21. Nada
se compara àquela ação. Teve efeitos terríveis, não apenas
destruindo o Iraque, mas alimentando o crescimento do Estado Islâmico
e instigando conflitos étnicos que estão estraçalhando a região.
BBC
News Brasil - O senhor está prestes a fazer 90 anos agora em
dezembro, e acompanhou episódios marcantes da história do último
século. O que lhe faz continuar, o que lhe traz esperança?
Chomsky
- O que me faz continuar é a gravidade dos problemas. O que dá
esperança é o fato de que há muita gente dedicada a fazer algo
para resolvê-los. O nível de engajamento que vejo hoje está além
do que vi em minha vida toda. É
preciso lembrar que os Estados Unidos tinham leis explícitas contra
miscigenação até os anos 1960 - leis que nem os nazistas puderam
adotar porque iam longe demais.
A Inglaterra praticamente
assassinou um grande matemático (Alan Turing) por homossexualidade,
herói da Segunda Guerra por ter quebrado o código da Alemanha
nazista. Ele foi submetido a um tratamento médico que o levou à
morte. Inglaterra, um
país avançado. Até 2003,
ainda tínhamos leis anti-sodomia nos Estados Unidos.
Houve mudanças tremendas com os anos, e elas não vieram de
presente. Vieram de ativismo constante, que está aqui, crescendo,
com essas manifestações. Acho que esses são sinais de esperança.
Olhando para as diferenças entre ontem e hoje, é um mundo muito
diferente”.10
7
Sim, é tudo culpa do PT!By João César de Melo – 22/02/2018.
http://www.joaocesardemelo.com/.
Artista plástico formado em arquitetura, acredita no
libertarianismo como horizonte e no liberalismo como processo, ateu
que defende com segurança a cultura judaico-cristã, lê e escreve
sobre filosofia política e econômica.
8 Blog
do Wanfil por Wanderley Filho. Cid Gomes e o socialismo caviar do
PSB cearense. Por Wanfil em Ceará, 14 de agosto de 2013.
“Acredito na democracia, na livre iniciativa, no mérito pessoal,
na liberdade de imprensa e nas economias de mercado; sendo, por
oposição, contrário à excessiva intervenção do Estado na
economia e na vida privada. Creio que fé e razão são forças
complementares. Sou guiado por uma enorme vontade de duvidar, não
como negação sistemática, mas como ânsia de conhecer”.
http://tribunadoceara.uol.com.br/blogs/wanderley-filho/ceara/cid-gomes-e-o-socialismo-de-caviar/
.
9
"SURTO" DE RAIVA DE CID GOMES CONTRA O PT REVELA A
INUTILIDADE DA FRENTE DEMOCRÁTICA PRÓ HADDAD INTEGRADA DESDE O
PSTU, PCB, ATÉ O PSB E PDT. SEGUNDA-FEIRA, 15 DE OUTUBRO DE 2018.
Postado por LBI às 23:59 . “A LBI é uma corrente que nasce sob o
signo da defesa do marxismo de nosso tempo, o trotskismo. No momento
em que todo um setor do movimento operário, que se reclamava da IV
Internacional, adapta-se à social-democracia e ao nacionalismo, nós
reafirmamos os princípios do comunismo de Marx, Engels, Lenin e
Trotsky, a luta pelo internacionalismo proletário, a defesa da
revolução socialista contra a barbárie do capital, sob a base da
ditadura do proletariado. Nossa organização tem origem em um
núcleo saído das fileiras da OQI (Jornal Causa Operária). Nossa
ruptura está fincada sob a defesa incondicional do Estado operário
soviético. A OQI, sob o peso da herança do lambertismo, analisou
que a dissolução da ex-URSS, assim como a anexação capitalista
da Alemanha Oriental, foram fatos progressivos para o proletariado
mundial. A destruição dos estados operários e o fim do
estalinismo não foi produto da ação revolucionária das massas,
ao contrário, é fruto da contra-revolução burguesa mundial,
colocando como tarefa a todos aqueles que reivindicam o legado de
Lenin e Trotsky, o combate pelas conquistas históricas da
revolução. JUNHO/1995 DIREÇÃO NACIONAL DA LBI”.
http://lbi-qi.blogspot.com/2018/10/surto-deraiva-de-cid-gomes-contra-o-pt.html
.
10
ALMEIDA. SEX, 21/09/2018 – 13:52; da BBC-Brasil; 'Eles (PT)
tiveram tremendas oportunidades. Algumas foram usadas em benefício
da população, outras foram perdidas. É preciso perguntar por que
isso ocorreu, e fazer isso publicamente', diz Chomsky, conhecido
pelo ativismo de esquerda. “PT deveria realizar 'comissão da
verdade' para examinar seus erros, diz Noam Chomsky”; por Júlia
Dias Carneiro. Considerado um dos mais importantes linguistas do
mundo, o filósofo e ativista de esquerda americano Noam Chomsky
afirma que o PT deveria estabelecer "uma espécie de comissão
da verdade" para analisar os erros cometidos pelo partido.
"Eles tiveram tremendas oportunidades. Algumas foram usadas em
benefício da população, outras foram perdidas. É preciso
perguntar por que isso ocorreu, e fazer isso publicamente. E
realizar reformas internas que impeçam que aconteça outra vez",
considera Chomsky, em entrevista à BBC News Brasil. Conhecido por
seu forte ativismo de esquerda, Chomsky tem saído em defesa do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Assinou manifesto a favor
do petista e participou, na última sexta-feira, em São Paulo, de
um seminário organizado por Celso Amorim, ex-ministro de Relações
Exteriores de Lula, na Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT. Nesta
quinta-feira, ele deve visitar o ex-presidente na prisão em
Curitiba. Professor de linguística na Universidade do Arizona,
Chomsky completa 90 anos em dezembro. Ganhou de presente adiantado
da esposa brasileira um papagaio amazonense, verde e de cabeça
amarela, batizado de Zé Carioca. O casal está ensinando-o a falar,
em inglês, duas expressões-chave da teoria linguística de
Chomsky: "language is a snowflake" ("a linguagem é
um floco de neve") e "merge is basic" ("fundir é
básico", em traduções livres). Leia abaixo os principais
trechos da entrevista.
https://jornalggn.com.br/blog/almeida/pt-deveria-realizar-comissao-da-verdade-para-examinar-seus-erros-diz-noam-chomsky
.
Comentários
Postar um comentário